quinta-feira, abril 12, 2007

O ''canhão'' Nelinho

O ''canhão'' Nelinho

Comecei minha paixão pelo futebol em meados de 1977, assistindo a final do Campeonato Brasileiro daquele ano que foi decidido entre Atlético-MG e São Paulo. Em 1978, na Copa da Argentina, fiquei impressionado de ver o famoso ''gol de curva'', uma verdadeira ''bomba'' de Nelinho no jogo contra a Itália, e daí então, não parei mais de acomanhar o futebol da seleção e do meu time de coração, o Galo (Atlético-MG). Tenho vários ídolos no futebol, dentre eles: Nelinho, Éder, Reinaldo e Zico, mas os que sempre me chamavam a atenção mesmo, eram os que tinham as famosas ''bombas'', ou chutes fortes. E quando se trata deste assunto, ninguém supera Nelinho, e é sobre ele que vou falar...

Um dos maiores cobradores de falta do mundo de todos os tempos, Manoel Rezende Matos Cabral, o Nelinho, hoje é comentarista esportivo de um canal fechado.
Nascido no Rio de Janeiro em 26 de julho de 1950, Nelinho foi revelado pelo Olaria, mas assinou seu primeiro contrato como jogador profissional com o Bonsucesso, no final dos anos 60. Lá, foi comandado pelo ex-craque Amaro (América, Corinthians, Juventus, da Itália, e Portuguesa), técnico que Nelinho agradeceu pelos conselhos até o fim de sua carreira.
Em pouco tempo como profissional foi contratado pelo América-RJ, e depois teve rápidas passagens pelo Setubal, de Portugal (experiência que classificou como inútil em sua vida), pelo Anzoategui, da Venezuela, e pelo Remo, de Belém do Pará. Em 1973, foi para o Cruzeiro onde finalmente "explodiu" para o futebol.
Quando defendia o Remo, Nelinho finalmente foi descoberto pelo treinador Orlando Fantoni, do Cruzeiro.

Sua estréia foi contra o Nacional de Muriaé. A Raposa já vencia por 3 a 0 e houve uma falta perto da área. Nelinho ainda não tinha fama de bom batedor e outro jogador foi designado para a cobrança. Ele rolou para o lateral-direito desconhecido da torcida que pela primeira vez mostrou o seu ''canhão'': 4 a 0. Começava a surgir um novo ídolo.
Permaneceu na Toca da Raposa até 1980 e seus principais títulos no clube celeste foram os campeonatos mineiros de 1972/73/74 e 77 e a Libertadores da América de 1976.
Nelinho fez parte de uma das maiores formações do Cruzeiro em todos os tempos. Nos anos 70, o time azul, além do lateral-direito, contava com Raul, Dirceu Lopes, Palhinha, Eduardo, Joãozinho, Roberto Batata, Jairzinho e companhia.
Em 1978, Nelinho foi convocado para defender a seleção brasileira na Copa da Argentina.

O Brasil ficou com o título moral, mas Nelinho destacou-se. O lateral deixou sua marca registrada, o chute forte, em jogo contra a Itália na disputa do 3º lugar.

O canhão

Apesar de, com o tempo, ter se desenvolvido tanto na marcação quanto no apoio ao ataque, Nelinho ficou conhecido mesmo por ser um preciso cobrador de falta, dono de um chute muito potente. Em 1980, a fama de seu ''canhão'' rendeu até uma inesquecível matéria feita pela TV Globo, em que o lateral chutava uma bola para fora do estádio do Mineirão. Foi uma aposta com um repórter da Globo, não foi no decorrer de um jogo. Queria provar que estava totalmente recuperado de uma lesão na coluna. Foi para o Mineirão, com a bola na mão, e chutou-a para fora do estádio.
Seu segredo sempre foi o treino exaustivo. "Quando eu tinha apenas oito anos de idade, não largava a bola o dia inteiro. No meu time, também queria cobrar todas as faltas e escanteios. Se não tivesse ninguém para brincar, chutava a bola sozinho durante horas", conta.
Por não ser um lateral de origem, teve de trabalhar muito para se adaptar à posição. "Eu tinha dificuldades na marcação. No começo, tinha problemas quando pegava um ponta ciscador pela frente", lembra Nelinho.
"Eu tenho consciência de que apareci muito pelos gols que fazia, principalmente os de falta. Se fosse somente pela minha técnica e minhas qualidades como marcador e apoiador, talvez nunca chegasse à seleção brasileira", avalia Nelinho, que também acha que o fato de jogar em Minas Gerais colabora para que alguns jogadores apareçam menos.

Renascendo no inimigo

Depois de vencer quatro campeonatos mineiros e uma Copa Libertadores para o Cruzeiro, Nelinho caiu em desgraça no clube. Perseguido e marginalizado na Toca da Raposa, acabou sendo vendido para o maior rival, o Atlético-MG, como se fosse um traste.

No Galo, ele recuperou seu futebol aos 32 anos e renasceu. "Minha dignidade estava em jogo", avalia. Irritado com a forma humilhante como deixou o Cruzeiro, o lateral criticou Felício Brandi, ex-presidente do clube. "Ele pensava que estava empurrando um bagulho e achava que eu não acertaria no Atlético-MG. Ele deu azar porque encontrei um bom ambiente, onde pude me desenvolver ", conta. No Atlético, ele ganhou outros quatro campeonatos Mineiros: 1981, 1982, 1983 e 1985.

Um craque ''cabeça''

Além de seus chutes fortes, Nelinho deixou seu nome marcado também pela sua consciência. Apesar de ser taxado de polêmico por alguns, nunca foi irresponsável. No final da carreira, ajudou a diminuir o preconceito contra os jogadores com mais de 30 anos. Na década de 80, já acusava os dirigentes de serem o maior mal do futebol. "Eles são escolhidos por serem amigos dos presidentes ou por terem dinheiro para avalizar os negócios dos clubes. Nunca por entenderem do esporte", dizia, na época.
Aos 36 anos, já era deputado estadual pelo PDT e apontava os problemas e soluções para o esporte.

A famosa curva

Sua maior alegria no futebol foi ser convocado para a Copa de 1974 depois que Carlos Alberto Torres foi cortado por Zagallo. Também jogou a Copa seguinte.

No Mundial da Argentina em 1978, fez um gol memorável contra a Itália e garantiu o terceiro lugar para o Brasil na competição. A curva impressionante daquela bola fez Nelinho entrar para a história do futebol.

''O goleiro achava que ia cruzar e eu acabava chutando para o gol. Bati e aconteceu! Fui feliz e dei sorte! Mas aquilo foi treinamento excessivo'', diz Nelinho.

Ao todo foram 24 jogos e seis gols com a camisa canarinho.

(Trechos do texto ''Um canhão no pé direito'' de Raul Drewnick)

Ricardo M. Freire