domingo, janeiro 14, 2007

Boto-cor-de-rosa, um animal pré-histórico


Boto-cor-de-rosa, um animal pré-histórico

A minha admiração pelos golfinhos é algo além do normal. As pessoas que estiveram aqui em minha casa, perceberam facilmente isso quando se depararam com as paredes da sala. Os golfinhos além de serem muito belos, rápidos e inteligentíssimos, parecem estar sempre sorrindo, transmitindo assim, vejo eu, uma certa paz e ao mesmo tempo nos passando uma sensação de total liberdade. Mas o animal que me fascina mesmo é o boto-cor-de-rosa. A primeira vez que o vi (na TV, é claro) foi numa reportagem do cientista JACQUES COUSTEAU quando esteve na Amazônia fazendo uma série de documentários.
O boto-cor-de-rosa é uma espécie rara de boto encontrado em toda a Bacia Amazônica e do Orinoco, tanto no Brasil, quanto na Colômbia, Guiana, Equador, Peru e Bolívia. Chegam a 2,8 metros na idade adulta e apresentam coloração rosa e acinzentada. Deslocam-se sozinhos ou em pequenos grupos. Alimentam-se principalmente de peixes. Geram apenas um filhote após cerca de 10 meses.
O curioso é que este mamífero é um animal pré-histórico, ancestral vivo dos golfinhos atuais. Existe grande diferença entre botos e golfinhos. Os golfinhos ou delfins são animais mamíferos cetáceos pertencentes à família Delphinidae. São perfeitamente adaptados para viver no ambiente aquático, existem 37 espécies conhecidas de golfinhos, dentre os de água salgada e água doce, sendo os de água doce os botos. A espécie mais comum é a Delphinus delphis. Explicações envolvendo a ocorrência de golfinhos para a água salgada e dos botos para a água doce são as mais comuns. Entretanto, existem poucas diferenças anatômicas para separar golfinhos de botos, pois este é um problema de terminologia regional e não de anatomia ou fisiologia. Com seu bico comprido, olhos minúsculos e ausência de espinha dorsal, o boto-cor-de-rosa é uma criatura enigmática, pois ninguém sabe o que confere essa coloração tão incomum a estes botos. Talvez sejam os vasos sangüíneos capilares próximos à superfície da pele, ou certas substâncias químicas presentes na água.
Há mais de cinco milhões de anos, golfinhos nadaram através do Oceano Atlântico até o Rio Amazonas.
O boto cor-de-rosa já foi a mais bem-sucedida espécie de golfinho, mas agora ele corre perigo. Ninguém sabe quantos botos cor-de-rosa ainda restam. Mas devido ao programa de conservação PARD, os botos aumentaram de oito para 45 indivíduos em 18 anos, na região de Yapara. Nas últimas décadas, a pesca ilegal e os encontros fatais com redes de nylon reduziram drasticamente a população do boto cor-de-rosa. A comunidade local, que sempre viveu em harmonia com os botos, começou a matá-los por crenças supersticiosas. No Amazonas, existe uma lenda dizendo que os botos se transformam em belos rapazes para seduzir as moças ribeirinhas. Ainda é mencionada até hoje nos casos de filhos de paternidade desconhecida. A genitália das fêmeas e dos machos continua sendo vendida ilegalmente como amuletos para a procura do amor perfeito. Além desta ameaça, a destruição do ecossistema amazônico e a construção de barragens são as maiores ameaças à sobrevivência desta espécie.

Coisas do "bicho-homem"...

Ricardo M. Freire